Meta selfies: Por que Kim Kardashian e Bella Hadid apostam no mesmo tipo de fotografia? Estas são as diferentes leituras da mais recente obsessão pelas redes sociais.
Em 2014, o Instagram entrou em nossas vidas para fazer da estética e perfeição do Pinterest suas máximas. As selfies deixaram de ser herança de Paris Hilton e de seu círculo de amigos privilegiados para se tornarem parte do nosso cotidiano, a ponto de passarmos da obsessão por imagens perfeitas dignas de um editorial de revista de moda para abraçar imagens menos nítidas e mais caseiras. Como se não bastasse, poses sensuais e sorrisos perfeitos também deram lugar a ‘selfies’ em que as celebridades se retratam chorando.
Por isso, a perfeição não é mais a norma nas redes sociais (nas quais tiramos sete fotos antes de enviar a final), e em uma nova reviravolta no roteiro, a Geração Z quer se rebelar contra aqueles que a acusam de ser uma geração descaradamente narcisista deixando claro para o mundo não só que eles são tão orgulhosos de sua imagem que até capturam seu reflexo, mas também estão cientes de que as redes superexpuseram sua existência. Essas duas ideias são o que refletem as ‘meta selfies’ que nada mais são do que fotografias da própria ‘selfie’.
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O que é Meta selfies?
Esses tipos de fotografias entraram em nosso imaginário virtual durante a quarentena. As redes encheram-se então de imagens aparentemente negligenciadas (embora bem saibamos que não é o caso) em que a presença da moldura do espelho, da capinha do telefone ou da lente da câmera veio demonstrar que a naturalidade era o novo objetivo do universo digital. De Alexandra Pereira a María Pombo, as rainhas do Instagram lançaram esta tendência destinada a renovar o universo das ‘selfies’.
Criatividade e domínio da narrativa no meta selfie
Após deixar o confinamento para trás, celebridades como Dua Lipa, Bella Hadid e Kim Kardashian pegam as novas fórmulas criativas nascidas do isolamento e agora preenchem seus perfis com imagens nas quais se gabam orgulhosamente de sua reflexão e da consciência da hipervigilância (daí alguns falam da estética ‘surveillance chic’) e que estão sendo julgados. Serve também como uma luta contra a forma como historicamente a história da arte e da fotografia tem resguardado as mulheres, que ao serem representadas sempre tiveram a consciência de serem observadas.
Como John Berger aponta em ‘Ways of Seeing’, dentro dessas convenções, os homens vêem, enquanto a qualidade das mulheres deve ser vista. Por isso, a tendência da ‘meta selfie‘ é também uma forma de mostrar que as mulheres não se limitam a aparecer, elas também enviam mensagens com sua imagem. Assim, elas assumem a narrativa e colocam em movimento uma construção que ela se rebela contra aquele olhar masculino.
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A meta selfie ri da própria vaidade
Esse novo tipo de imagem serve, portanto, como uma viagem para quem ri das chamadas “gerações selfie”, já que a ‘meta selfie’ ri da própria vaidade. Se antigamente os influenciadores os viam e queriam tirar fotos no espelho sem que as câmeras fossem vistas, agora o que as redes buscam é que a parafernália seja exposta.
Do ponto de vista criativo, a meta selfie é o desafio de tirar mais proveito da selfie clássica. Parece um tiro inocente que pouco contribui, mas ao abrir o plano também aumenta a história que ele conta, aquele nos bastidores e aquela narrativa que muitas vezes é buscada nas redes sociais para se aproximar do usuário e dar transparência. Como o tripé, o espelho ou o que está ao seu redor podem sair, não há mais segredos entre quem tira a ‘meta selfie’ e quem a olha. Numa altura em que tudo é inventado, a batalha pela atenção precisa de encontrar nuances e detalhes para continuar a fazer o mesmo mas tendo melhores resultados. Nesse caso, o objetivo é reter por mais alguns segundos o usuário, que está em busca de detalhes, e também quer fazer com que ele se sinta parte da história.
Quando Kim Kardashian postou sua ‘meta selfie’ usando um look Balenciaga em suas redes, ela não só fotografou seu reflexo no espelho, como fez alusão a ele no texto (“Quando olho meu reflexo, posso dizer que estou orgulhosa da mulher que vejo no espelho”, escreveu) e deixou bem claro que suas ‘meta selfies’ são na verdade uma pequena armadilha, porque quem tira a imagem nem é ela. No caso de Kardashian, trata-se de dar um novo toque na tendência para torná-la ainda mais inovadora.
Em 2016, foi Bella Hadid (uma das precursoras das fotografias em que as celebridades aparecem chorando) que lançou as bases para essa tendência, mas o fez de uma maneira completamente diferente da que abraçamos hoje. Afinal, a ‘meta selfie’ que a modelo lançou foi baseada em fotografar a si mesma em frente aos cartazes publicitários que ela protagoniza. Para as celebridades, a ‘meta selfie’ reforça a autoridade ao mostrar o realismo de seu trabalho nas telas de um prédio ou de um ponto de ônibus.
A meta selfie reforça a autoridade
Mas por que essa obsessão pela fotografia dentro da fotografia? O que essa tendência significa do ponto de vista social? Passamos da individualidade egóica da selfie, onde seu protagonista é idolatrado, para a meta selfie, o usuário também desempenha um papel e se esgueira para dentro da cena. Quanto à narrativa, ainda é um potencializador da marca pessoal e o storytelling, já que todas as fotos que podemos encontrar sob a hashtag #metaselfie tanto de celebridades, influenciadores ou usuários anônimos contam uma história que geralmente sai do quadro perfeito que é publicado, porque os elementos são menos instagramável e mais real, que é a exigência das novas gerações. Em última análise, esta tendência é mais uma forma de nos libertarmos do jugo da perfeição.
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