Hoje, 20 de maio, é comemorado o dia mundial do jeans. Uma peça indispensável no vestuário de qualquer um, iniciou sua história em Nimes, na França, onde o tecido foi fabricado pela vez no ano de 1792. No início começou a ser conhecido por “tecido de Nimes”, expressão que com o tempo foi abreviada para “Denim”.
Por ser um tecido que não necessitava de muitos cuidados para seu uso e conservação, ele começou a ser utilizados para roupas de trabalho no campo e pelos marinheiros italianos que trabalhavam no porto de Génova. Apesar de ter sido “criado” na França, foi nos Estados Unidos que ele se tornou popular.
Foi em Maryland, nos EUA, que esta peça se tornou célebre, e não foi criada por estilistas famosos, mas sim, fabricada por um comerciante que se imortalizaria na tentativa de melhor utilizar o tecido de algodão sarjado, conhecido como ‘denim’, em referência ao local onde foi gerado, destinado à produção de lonas, para as quais já não havia mais mercado.
Em 1853 era a corrida ao ouro na Califórnia, e por lá andava um jovem judeu alemão, de nome Levi Strauss, que tinha começado por vender lona para as carroças dos mineiros e que, ao perceber que as roupas dos mineiros não eram adequadas para o desgaste que sofriam, levou um dos mineiros a um alfaiate e teve a ideia de transformar o material, vindo de Maryland, normalmente na coloração marrom, em calças confeccionadas com três bolsos que eram fixados com tiras.
O sucesso dessas calças foi tão grande, justamente porque era bem resiste, que foi adotada também pelos trabalhadores rurais e ferroviários. A patente de sua criação foi concedida em 1873.
O primeiro lote das calças da Levi Strauss tinha como código o número 501, que acabou se tornando o modelo mais famoso e clássico da marca Levi Strauss. Com o passar dos anos, as calças jeans foram sendo melhoradas. Em 1860 foram acrescentados os botões de metal. Em 1886 começou-se a coser a etiqueta de couro no cós das calças. A cor azul do tecido veio só depois, em 1890, quando Levi Strauss decidiu tingir as peças com o corante de uma planta chamada Indigus, dando a cor pela qual o jeans é hoje conhecido e foi, nada mais, nada menos, que uma estratégia (bem conseguida) de tornar as calças jeans mais atraentes. Os bolsos traseiros apenas fizeram a sua aparição em 1910.
Já em 1872, o fabricante de capas para equinos, Jacob Davis, escreveu uma carta para Strauss, dizendo que, com o tempo e o peso das pepitas de ouro, os bolsos das calças jeans dos mineradores começavam a cair. Então ele propôs uma solução: unir os bolsos às calças com o mesmo tipo de rebite de metal que ele utilizava nas correias dos cavalos. No entanto, Davis queria a patente da ideia, que foi aceita e paga for Strauss. A partir daí os dois se juntaram em uma próspera sociedade na produção das calças de denim.
Em 1928, uma repórter da Vogue voltou para o leste dos EUA depois de uma viagem a um hotel-fazenda em Wyoming com uma foto sua que dizia: “Vestindo a inacreditável calça jeans […] E um sorriso que não se encontra em lugar nenhum na ilha de Manhattan”. Em junho de 1935, a revista publicou uma matéria que ensinava às suas leitoras a arte caseira de desgastar jeans: “O que ela faz é correr para a loja local e pedir uma calça jeans, que ela secretamente deixa boiando durante a noite numa banheira cheia d’água — quanto mais vezes uma calça jeans é lavada, melhor ela fica, principalmente se encolher um pouco”.
O jeans se popularizar por volta da década de 30, através de filmes com cowboys norte-americanos, que retratavam o clima western, que acabou se tornando moda. Foi durante a Segunda Guerra Mundial, que o denim ganhou uma imagem de virilidade, pois era usada nos uniformes dos soldados norte-americanos. Após a vitória dos Aliados, o jeans se espalhou pelo continente Europeu.
Na década de 40, os cowboys do asfalto montavam suas motos Harley-Davidson trajando o jeans. Porém foi na década de 50 que o jeans transformou a peça em símbolo de rebeldia, quando, no filme Juventude Transviada, o ator James Dean, no papel do jovem e rebelde Jim Stark, apareceu usando a combinação clássica: calça jeans e camiseta branca (que na época era considerada uma roupa de baixo).
No sul dos EUA, com o fim do sistema de arrendamento, o jeans carregava uma conotação diferente. Em 1941, uma matéria de moda da revista Life chamada “Doris Lee Offers the Southern Negro” (“Doris Lee Oferece a Negra do Sul”, em tradução livre) trazia uma série de desenhos da artista à la Maira Kalman de mulheres afro-americanas de barriga de fora usando blusas frente única, turbantes e saias coloridas. Esses desenhos eram justapostos com fotografias de mulheres brancas com roupas similares.
O texto dizia: “[A artista] explica que essas negras do litoral, mais primitivas do que as de qualquer outro lugar, têm tino para cor, uma ‘estranheza de proporções’, grande talento e engenhosidade, principalmente em suas adaptações de roupas descartadas”. Um par de imagens incluía “macacões desbotados […] prontamente adaptados para uma calça jeans capri”. A matéria sugere que, assim como o blues, os estilos de jeans americanos foram adaptados — ou roubados — dos afro-americanos. Os negros levaram décadas para aderir à moda do jeans, uma vez que remetia a uma história brutal de violência, opressão e exploração.
Além de Dean, outros atores ajudaram a popularizar a peça como Marlon Brando e Elvis Presley, que contribuíram para que a peça se disseminasse entre os jovens, e teve sua imagem intrinsecamente ligada ao rock. A imagem rebelde do jeans se tornou tão forte, que o traje passou a ser proibido nas escolas e em lugares como cinemas e restaurantes. Logo depois, novas modelos, como Marylin Monroe, usavam o jeans com um apelo sensual.
O jeans representava um tipo de rebelião, porém as marcas não estavam prontas para associar seus produtos com delinquentes antiautoritários como Marlon Brando, que vestia uma 501 em O Selvagem. Os jornais faziam questão de mencionar quando os bandidos estavam usando calça jeans e escolas proibiram o uso da peça. Já os fabricantes de denim tentaram camuflar a situação com slogans como “Jeans: Ideal para a Escola”. Até formaram uma organização chamada Conselho do Denim para promover saudáveis concursos de beleza para eleger a “rainha da calça jeans” e vestir os primeiros voluntários do Corpo de Paz de JFK. Mas foi tudo em vão.
Depois desses atores vieram os Beatles, Bob Dylan e Jimi Hendrix, e o jeans continuou sendo a peça principal do visual jovem. Nos anos 70, com a guerra do Vietnã, surgiu um novo grupo, os hippies americanos, que adotaram o jeans como peça essencial do visual largado, estando mais uma vez ligado a cultura jovem. Foram eles, os hippies, que introduziram a ideia de customização das peças e que logo entrou em processos industriais. Na mesma época o jeans iniciou a sua globalização e foi introduzido na indústria europeia e se tornando grande referência na produção do artigo na indústria da moda. Levi’s, Lee e Mustang se consagravam como marcas de grande nome no segmento.
“O fato de o consumo de massas, com toda a padronização que implica poder, de alguma forma, se reconciliar com um individualismo desenfreado foi um dos truques mais inteligentes já inventados pela civilização ocidental”, escreveu o historiador Niall Ferguson em Civilização: O Ocidente e os Outros, de 2011.
O denim era o símbolo máximo do paradoxo da cultura consumista para a URSS. Ele resume bem, “Talvez o maior mistério de toda a Guerra Fria seja por que o Paraíso dos Trabalhadores não foi capaz de produzir uma calça jeans decente? ”.
A primeira vez que o jeans saiu da cultura jovem e subiu em uma passarela foi nos anos 70, durante um desfile de Calvin Klein. O estilista foi muito criticado pelos mais conservadores da época, que não imaginavam o que se tornaria aquela peça. A campanha publicitária da grife foi mais chocante ainda, onde colocava a jovem Brooke Shields, com então 15 anos, trajando uma calça jeans, e então, a seguinte frase: “Você sabe o que há entre mim e a minha Calvin? Nada”.
Klein transformou rapidamente 25 milhões de dólares em 180 milhões. Isso antes de o brim com stretch inundar o mercado, assim, essas calças não só tinham a cintura excepcionalmente alta e justa, como também eram grossas e inflexíveis — tão apertadas e rígidas que as mulheres precisavam deitar e usar uma pinça para subir o zíper.
Aos poucos, muitos estilistas importantes da época acabaram adotando o jeans, porque perceberem que se tratava de uma peça simples e de expressão. Nos anos 80, as pessoas começaram a desejar mais criatividade na hora de se vestir, e o jeans havia se consolidado como uma peça de estilo autêntico, se consagrando como moda casual.
Se nos anos 70 a “moda” era um caimento sexy nos jeans, os anos 80 estava voltado para os acabamentos, com lavagens diferenciadas com pedras, tesouras e alfinetes, além de muita água sanitária para incrementar a peça. O estilo do denim pode ter vindo das ruas, porém foi com estilistas como Vivienne Westwood e Dolce & Gabbana que levaram o jeans inspirado pelo punk para as passarelas. Em 1988, a editora-chefe da Vogue, Anna Wintour, colocou pela primeira vez uma modelo usando uma calça jeans desbotada da Guess em sua primeira capa.
A Diesel foi a primeira marca a conseguir, levar um jeans premium desbotado com design italiano para os consumidores dos subúrbios americanos. A marca abriu o caminho para a boca de sino e a lavagem “bigode” (aquelas marcas de vinco desbotadas que saem da braguilha). Marcas como Seven for All Mankind, Habitual, Citizens of Humanity, Paper Denim & Cloth, True Religion, Chip & Pepper, Earl, Yanük, Frankie B. e muitas outras seguiram o exemplo e incluíram fios de stretch para permitir uma cintura bem mais baixa, deixando a calcinha à mostra.
Agora, em meio à Grande Recessão, e com uma demanda razoavelmente recente por nostálgicas calças jeans “tradicionais” que lembram o industrialismo da Grande Depressão: camisas de operários e macacões jeans em tons de azul royal e jardineiras de corte reto e funcional. Como seus precursores dos anos 1920 e 1930, esses jeans parecem bastante saudosos de um país do passado.
Os tecidos decorrentes disso têm o tipo de selvedge (acabamento gasto nas extremidades do material) fetichizado por esnobes do jeans do mundo todo. Elas desgastam com muito mais personalidade do que os jeans das últimas décadas, que são mais macios e passam por mais lavagens.
Foi justamente nessa época que as lavanderias industriais surgiram, e essas passaram a ser responsável por desengomarem e amaciamento do Jeans, proporcionando um toque diferenciado. Com a criação do “stone wash”, nome conferido ao uso de pedras no processo, as calças passaram a ter um efeito envelhecido, permitindo assim criar vários tons de azul. Jeans claros e escuros, pela primeira vez, andavam lado a lado nas ruas.
Desde sua existência ele passou por várias transformações de formas e significados. Já foi roupa de minerador, operário, soldado, rebelde, e hoje é usada por todos sem distinção de classe social ou idade.
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