Tendências de comportamento e negócios para 2018 segundo a WGSN
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Tendências de comportamento e negócios para 2018 segundo a WGSN

3 de maio de 2016

WGSN-Reset

A WGSN realizou durante o SPFW25ª edição do WGSN SPFW, apresentando algumas tendências que devem ganhar força nos próximos dois anos.

Para a empresa, autoridade mundial de previsão e tendências para as indústrias da moda e criativa, em 2018 pessoas e empresas vão apertar o botão “reiniciar” e redefinir como vivemos, projetamos e negociamos no mundo todo. Num cenário em que tudo será novo, empresa que se dedica a estudar tendências se fortalece como ferramenta para auxiliar no planejamento de negócios.

“Em dois anos, vamos viver um momento crucial, pautado pela justaposição entre dependência tecnológica e autossuficiência. Tecnologias voltadas para a cura irão transformar o sistema de saúde e a indústria relacionada ao bem-estar, porém não substituirão a importância em praticar exercícios físicos, já que a força se estabelece como o novo saudável. Tecidos inteligentes irão sacudir a indústria de moda, mas não chegarão a substituir a necessidade de materiais com toque agradável. Novos aplicativos e redes sociais irão estimular relacionamentos globais, mas a nossa conexão mais importante será com a natureza e com a gente mesmo”, adianta Letícia Abraham, VP Latam da WGSN.

Conheça as quatro macrotendências que vão permear a vida, e os negócios, em 2018:

VIDA TERRENA

tendência de se conectar a natureza

“A natureza não precisa de pessoas. As pessoas precisam da natureza”. É o que diz a primeira linha do ‘manifesto humano’, publicado pela organização ambiental Conservation International. “É um sentimento adequado para servir de ponto de partida nessa temática, que aponta para uma necessidade emergente de conexão com a natureza de forma visceral e selvagem”, afirma Letícia Abraham, VP Latam da WGSN. Aqui agrupam-se vários comportamentos, que vão desde a necessidade de autossuficência, de se conectar à natureza e valorizar o que é natural – desde alimentos, tecidos e também produtos de beleza – até a crescente admiração pela ciência.

Em um mundo cada vez mais online, as pessoas passam a buscar maneiras de diminuir esta dependência. Os dispositivos conectados são facilitadores, mas há fatores de risco associados ao vício em tecnologia. “As pessoas sentem-se preparadas para esquecer de informações importantes, por crer que elas podem ser imediatamente recuperadas através de um dispositivo digital, mas a chamada ‘amnésia digital’ é um risco no caso de falhas nas tecnologias”, complementa Letícia. Tarefas simples, como trafegar por uma cidade e se lembrar de um telefone, estão se tornando obsoletas. Um estudo recente descobriu que 67% das pessoas com menos de 25 anos no Reino Unido não sabem ler um mapa. “Como exemplo da busca por autossuficiência, vemos crescer nos Estados Unidos as aulas modernas de economia doméstica, tratando de habilidades como costura e sobrevivência na selva. Já no Brasil, os cursos de marcenaria estão se multiplicando”, comenta ela.

O movimento ‘do cultivo à mesa’ se estenderá para ‘da fazenda ao provador’, à medida que as peças do vestuário se utilizam de materiais caseiros e de fontes locais. Outros produtos de consumo, como tratamentos cosméticos para a pele e cuidados com a casa também se voltarão cada vez mais para os materiais naturais.

tecido-natural

“Já nos Estados Unidos e no Reino Unido, os ingredientes naturais de cultivo próprio tem se tornado uma tendência de estilo de vida”, afirma Letícia. A SONAR descobriu que 60% dos jovens que nasceram nos anos 2000 nos Estados Unidos e 46% no Reino Unido utilizam produtos alimentícios orgânicos para fazer tratamentos de beleza caseiros, pois acreditam que ingredientes de cultivo próprio são mais naturais do que os produtos nas lojas.

O interesse pela ciência vai crescer, tornando-a tão legal quanto os esportes, especialmente para a Geração Z. A Harvard Business Review se refere a profissão de cientista de dados como ‘o trabalho mais sexy do século XXI’, reforçando a ideia de que a ciência é legal, especialmente para jovens adultos. Por já ter nascido conectada com a tecnologia, a Geração Z recebeu valores diferentes das gerações anteriores, sendo altamente premiada por sua inteligência. Os esportes em equipe estão em declínio entre as crianças dos Estados Unidos (2,6 milhões de crianças abandonaram os esportes em equipe desde 2013). Já os programas extracurriculares de STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática) têm se tornado mais procurados a cada ano. STEM também é uma crescente prioridade no Brasil. O país está financiando um programa de $2 bilhões, chamado Ciências sem Fronteiras, que enviou 100.000 estudantes a instituições internacionais em 2015.

NOTURNO

noturno

Noturno não dá destaque apenas a escuridão da noite, esta tendência fala de sentimentos e situações sombrias, como a melancolia – que pode trazer o autoconhecimento; o pessimismo – aqui visto como impulso necessário para a superação; e até a morte, projetada de forma mais natural. “Esta tendência reúne comportamentos que buscam um equilíbrio estratégico entre o otimismo exagerado e o pessimismo saudável, ou seja, não só as pessoas vão se voltar aos seus medos e encará-los, mas também as corporações”, explica Letícia Abraham. A ideia é atacar a falsa sensação de otimismo e explorar o poder que um grau saudável de pessimismo pode trazer: empresas podem usar crises para aprendizados, por exemplo.

A solidão também será encarada, e buscada por muitos. “Vamos ter um reforço do ‘Viajante Solitário’, que troca viagens rápidas por longos períodos de contemplação em lugares onde o tempo parece que não passa, como Finlândia, Alaska, Norte do Canadá e Noruega”, afirma a VP Latam da WGSN. O número de viajantes solitários está em constante crescimento. O Estudo de Intenções de Visto Global de viagens de 2015 constatou que 24% das pessoas estavam viajando sozinhas, em países estrangeiros em suas últimas férias, o que significa um crescimento de 15% desde 2013. Além disso, o turismo solo é ainda mais comum entre os marinheiros de primeira viagem ao exterior, aumentando para 37% em relação aos 16% de 2013.

observar a cidade

À medida que vivemos mais tempo, tanto física como digitalmente, também seremos capazes de
discutir e até mesmo projetar a morte de uma forma mais humana e até mesmo mais bela. “Se fortalecem formas alternativas de tratar o ser humano após a morte e também espaços criados para se falar deles ou da própria morte. O assunto não é mais velado, ele vira protagonista”, conta Letícia.

A noite será cada vez mais vista como um momento ativo, principalmente para prática de esportes: skatistas, surfistas e praticantes de mountain bike, por exemplo, estão bem familiarizados com a superação dos medos – cada manobra, onda e obstáculo traz consigo um elemento de perigo – mas basta acrescentar a escuridão para a experiência se tornar ainda mais desafiadora. “Surgem também cada vez mais espaços onde se pode praticar esportes à noite, o que já é visto em Liverpool, na Inglaterra, que possui uma pista com estrutura que brilha no escuro”, explica a executiva.

DESIGN SUBSTANCIAL

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O ‘menos’ se tornará menos ainda, e significará muito mais. “Os consumidores contemporâneos desejam que a sustentabilidade seja um padrão da indústria e não uma estratégia de marketing. As marcas terão que se empenhar mais para atender a essa demanda. O design não deve apenas ser bom, ele também deve servir a um bem maior, ultrapassando os limites do produto e da propaganda”, conta Letícia Abraham. Com isso, o valor dos produtos e serviços será redefinido. “Quando as pessoas comprarem os produtos, de fato, elas desejarão que tais produtos agreguem valor à suas vidas, em vez de somente ocuparem espaço”, completa.

A nova ordem será o design sob demanda, à medida que a produção em massa retrocede e ocorre um aumento nos produtos impressos e produzidos sob demanda. Ganha força o design colaborativo.

O dinheiro usado para pagar por esses produtos também se tornará mais imaterial, com o crescimento das moedas criptográficas que funcionam como alternativa ao dinheiro. Atualmente, existem mais de 669 moedas virtuais disponíveis para comércio nos mercados online, a mais conhecida é a bitcoin. Apesar de ter enfrentado grandes contratempos ao longo dos anos, a bitcoin prospera em vários países, incluindo o Brasil. Por que agora? Para Letícia Abraham, a resposta é simples: “falta de confiança nas instituições econômicas e o aumento das viagens e da conectividade global. Num mundo de cartões magnéticos e similares, o dinheiro físico parece algo ultrapassado”, explica.

Em resumo, essencialidade é nova sustentabilidade.

INFUSÃO

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Esta tendência surge com um questionamento: como a tecnologia está nos moldando e como estamos moldando a tecnologia? “A Infusão vem mostrar que humanos e máquinas estão, pouco a pouco, se convergindo e haverá uma pressão para que trabalhem juntos: a tecnologia se torne parte mais intrínseca da vida, e para que as qualidades mais vivas e intuitivas se tornem parte mais intrínseca da tecnologia”, explica a VP Latam da WGSN.

A tecnologia está conectando as pessoas, especialmente os jovens, como nunca, criando tribos globais, além de grupos regionais de jovens. Embora a Internet possua um lado sombrio, as pesquisas mostram que a conectividade online é fundamental para os relacionamentos dos jovens – 57% dos
adolescentes conheceram um novo amigo online e 70% dos usuários adolescentes de mídias sociais se sentem mais conectados aos sentimentos de seus amigos através das mídias sociais, segundo um estudo recente do Pew Research Center.

“À medida que se torna mais fácil personalizar um perfil online, as pessoas também desejam personalizar seus perfis offline. As antigas identidades sociais são desconstruídas e surgem novas ideias, com a sociedade desafiando e redefinindo a imagem corporal e os estereótipos raciais. As definições de gênero, tipo de corpo e raça se tornarão mais fluidas e abertas, por exemplo”, complementa Letícia.

Os dois extremos se fundem, considerando que a tecnologia está intrinsecamente integrada aos tecidos táteis, criando materiais que são, ao mesmo tempo, glamourosos, atemporais e multifuncionais. “Veremos tecidos inteligentes, utilização de DNA para criação de produtos e serviços personalizados e materiais e nos questionaremos: afinal, quem está no comando, homem ou máquina?”, provoca Letícia.

Como estará o Brasil em 2018?

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O Brasil também vai viver este momento de reset, segundo Daniela Dantas, Head WGSN Mindset LATAM, que lidera o time de especialistas focados em projetos personalizados, pesquisa de tendências e construção de marca da WGSN. “Este reinício começa agora e acontece para que possamos mudar o futuro do país. É um reset do brasileiro como cidadão, consumidor e também como cultura”, afirma a executiva.

O histórico da classe média no país mostra que nos últimos tempos ela conquistou o poder de consumo e ganhou os holofotes. A partir de agora, o contexto vai mudar a forma dessa inclusão. “A classe média será cada vez mais consequência dos seus próprios valores e não do seu poder de consumo”, explica Daniela.

O momento político atual vai fortalecer a necessidade de uma atitude mais transparente de empresas e setor público. “Apesar de não ser um comportamento novo, o que é interessante aqui é que ele começa atingir camadas que antes não atingia”, explica Daniela.

Segundo Daniela, o Brasil ainda vive imerso em preconceito social, cultural, de gênero e ético. E isso vai alimentar uma nova onda de revoluções de grupos muitas vezes ignorados pela sociedade e pelas marcas. “Veremos pessoas manifestando-se sobre raça, cabelo enrolado, assexualidade, entre outros temas que hoje ainda são delicados”, afirma a especialista.

 

amigas

Além disso, mesmo com o país passando por um momento sério, surge uma forma de quebrar padrões de maneira divertida e nonsense, nos quais o surreal é elemento importante. “Não significa que vamos criar algo novo, pois é possível se apropriar de obras de terceiros, colocadas em um novo contexto, como fan fics de casais bizaros e o Bipolar show”, completa Daniela.

O reset da nossa cultura vem desenhado de novos contornos. “É preciso esquecer os clichês do brasileiro e olhar para essa cultura de um novo jeito, com uma nova cara, como o cantor Liniker, a exposição Youth de Hick Duarte e o filme Boi Neon”, finaliza ela.




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